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El topo da montanha Maravilha Jodorowsky
 
 
 
 
Amanda Spinelli


Orientação de Mariana Souza

O topo da sua história, quase como um faroeste no sertão.
Uma felina rugindo pra toda uma cidade que esse corpo não fica à margem das suas raízes, e que no filme que ela dirige pra sua vida é uma protagonista, respeitada, lynda e feliz.


Feito e dirigido com uma equipe de artistas transgêneros e partindo da premissa de memórias afetivas, a personagem Tita Maravilha retoma pro seu lugar de origem e remonta um festival tradicional da sua cidade quebrando os paradigmas não só os imbuídos antigamente num desfile convencional da heronormatividade mas também das consequências de perseguição e ameaças que toda a equipe sofreu durante o processo, onde foram hostilizadas e acusadas de estarem manchando e
desrespeitando a imagem de um festival ao gravarem um filme pornô (constatações conjecturadas por mera transfobia). Uma obra que por pouco não aconteceu pois além de terem os materiais outrora cedidos, cassados, também correram risco de suas próprias vidas que estavam em jogo. E de repente a festa se tornaria um pesadelo. Mas com muita ajuda e garra a
resiliência prevaleceu.


Misturando um docu-ficção (tema bem atual na cinegrafia nacional) a exemplo de Adirley Queirós com alguns de seus filmes como “Branco sai, preto fica”; “Mato seco em chamas”; Renata Pinheiro com “Carro rei”; São apenas alguns dos exemplos de filmes nacionais em evidência que mesclam a realidade com distopias e nos fazem pensar o mundo que queremos ou deveríamos ter pra si.


Pyrenopolinda abre com um ritual, desde o momento na cozinha com suas amigas e família, o olhar da câmera caseira emulado por uma super 8 que traz um olhar caseiro e observador como uma recordação em câmera analógica de antigamente quando a gente dirigia nossos próprios filmes em festas de família. O debulhar da espiga de milho e o preparo da pamonha, receita tradicional familiar, é um filme que tem cheiro, tem história e tem sabor. Mas surpreendetemente como um plot twist, a ceia final não
é gastronômica, ela é política.


Ao desfilar na sua cidade montada como uma mestre sala do seu desfile, e percorrer caminhos sinuosos até o topo da montanha onde o filme também atinge o seu ápice, a paisagem já é a tela de cinema pronta, a água do rio é sua água benta, e apenas as crianças que são desprovidas de julgamento, são suas espectadoras e também testemunhas quando Tita finalmente alcança esse altar.


Houve um tempo em que as corpas trans eram encenadas e dirigidas por pessoas cis, e em que nenhuma delas sequer apareciam no filme onde eram pautas apenas pra espetacularização. Mas finalmente chegou um tempo em que o poder do conto e o olhar das lentes estão nas mãos certas: De uma travesti, latino americana, brasileira, greco-goiana, pirenopolynda, artista, sertaneja e também diretora de cinema e premiada de uma mostra Absurda.

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